quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Parte II

Caro leitor, já parou para pensar que aqui no Brasil há ótimas lendas? Temos uma cultura bem diversificada onde cada estado tem suas próprias lendas. Mas parece que isso é deixado de lado, como se tivesse um valor menor em comparação aos mitos estrangeiros. O que considero uma pena. Quanto a livros não é muito diferente, já parou para notar como os livros estrangeiros são mais divulgados do que os nacionais? Nos livros que possuem uma temática sobrenatural, como fantasmas e vampiros, isso fica mais evidente. É como se esse seres fossem mais “reais” quando habitam os solos gringo. Puro preconceito em minha opinião. Afinal existem ótimos autores brasileiros, que acabam não recebendo o devido reconhecimento.
Bem, fique a vontade para deixar sua opinião.

O Conto de hoje fala justamente sobre uma lenda brasileira (embora um pouco modificada) que escrevi há tempos atrás para um concurso. Embora na época, fora feito em cima da hora, mas acho que vale à pena gastar alguns minutos.
Na próxima postagem, quero trazer um conto inédito, que já está formulado. Alias, tenho vários contos prontos em minha mente, só esperando o momento de serem publicados.


Sangue fresco, alma morta
(Dionatan Cordova)
Tentarei contar essa história com todos os detalhes, expressando todos meus sentimentos. Espero que no final o senhor compreenda a gravidade... Entenda que não tive culpa, fiz o máximo que pude e acredito que tive sucesso.

Sangue fresco, alma morta – Samuel
(Antes de apagar as luzes, olhe para trás.)

Apertei a coberta com força. Como era costume, passava as férias de inverno na casa de meus tios. Cidade pequena, não havia mais do que dez mil habitantes e ao redor podia ver apenas árvores. No grande quarto eu dividia o beliche com meu primo mais velho de 12 anos, no chão deitado sobre um colchonete velho, estava meu outro primo, esse com seus 8 anos.
A noite estava fria, diria que em torno de 14 graus. Como de costume, minha avó Lurdes vinha nos cobrir e contar algumas histórias. Na noite de 15 de abril 1997, ela contou uma lenda que mudaria minha vida.
Sentou sobre uma cadeira de balanço cruzando as pernas, enquanto ajeitava seu cabelo grisalho. Sorria para nós, apenas esperando que pedíssemos para ela contar uma historia.
Embora estivesse com um pouco de medo, sempre gostei de ouvi-las e o fato de dormir com meus primos me tranqüilizava.
Ainda com certo receio, pedi para ela contar a historia. Não demorou muito e ela começou a falar.
- Contarei a lenda do Papa-Figo. Alguém já ouviu?
-Não. –Respondíamos em coro.
-Pois bem... Dizem que ele tem aparência de uma pessoa normal, às vezes aparece como um velho ou um rapaz. Mas sempre em lugares que circulam crianças. Segundo alguns o verdadeiro papa figo não parece em público, manda seus ajudantes...
-Mas o que ele faz? – Indaguei
-Acalme-se, irei contar. Ele seduz as crianças com doces e brinquedos e as levas para longe. Depois quando estiver à só, ele arranca e come seu fígado. Ele possui orelhas compridas, mas ninguém sabe o porquê.

Confesso que não me impressionei, pelo menos até a pergunta do meu primo.

-Vovó... Foi ele que matou a Aninha?
-Não seja bobo Pedro isso é apenas uma lenda, como pode ver existem varias versões... Agora deitem, já é tarde.

Passaram-se 10 minutos de silencio total. Estava quase dormindo quando sou cutucado por meu primo.

-Samuel... Está acordado?
-Sim... O que foi? –Respondi meio sonolento.
-Foi ele...
-Ele o que?
-Foi o Papa figo que matou Aninha...



Sangue fresco, alma morta – Samuel II
(Poderás correr perante escuridão, mas não haverá como se esconder perante o medo.)


O sol vindo da janela batia em minha face, abri o olho lentamente, ainda muito sonolento. Meus primos não estavam mais no quarto. Levantei da cama e desci até a cozinha onde encontro tia Beatriz.

-Levantou tarde...
-É.
-Teus primos saíram... Disseram que teriam que resolver algo perto do colégio...
(Foi o Papa figo que matou Ana...)
-Tia... Vou caminhar por ai até a hora do almoço... Já é tarde, não quero café.

Em torno de 10 minutos já estava pronto, vestindo um velho abrigo cinza, pus-me a correr até o colégio. Aquele idiota poderia fazer alguma bobagem, acreditava em qualquer coisa. Eu tinha que evitar algum acidente.
O colégio ficava a seis quadras da casa da tia, cheguei frente a ele ofegante. Podia ver a certa distancia meus dois primos seguindo um homem, que julgava ser um mendigo.
Corri.

Sangue fresco, alma morta – Pedro Henrique
(Nem sempre confie em você mesmo)


O mendigo entrava em um estreito beco, cambaleando possivelmente devido a vodka vagabunda que segurava em sua mão.
Pedro entrara sozinho, pretendia resolver sozinho, usando um punhal que ganhara de seu avô. Caminhava devagar até avistar o mendigo deitado no chão, cobrindo-se com uma caixa de papelão.

-Filho da puta!- gritava Pedro, possuído pela raiva.

Tirava o punhal de prata do seu bolso, sua mão tremida apontava a arma para o mendigo. Sem controlar a si mesmo, punha-se contra o indigente, mirando seu peito. Talvez se fosse mais velho, teria matado aquele homem.

-Pare aí! – Gritava o policial, apontando sua ama para o morador de rua que segurava o pedaço que sobrara da garrafa de vodka. Disse alguma coisa e depois saiu correndo, deixando Pedrinho estirado contra a parede. Sua mão sangrava, alem dos cortes havia quebrado um de seus dedos.

-Está tudo bem? – Perguntava o policial aproximando da criança, acompanhado de Samuel e seu primo.
-S... Sim... -Respondeu, pondo-se a chorar.
-Venham para meu carro... Vou levá-los ao hospital.





Assim que todos entraram na viatura o policial vira-se para os meninos, com um copo de café, oferecendo para as crianças.
-Bebam um pouco... Fará bem a vocês.
Sem pensar duas vezes, os três beberam rapidamente.
-Sabe, estamos chegando. Vou ligar par ao pai de vocês assim quem as enfermeiras estiverem cuidando dele. Você agüenta ate lá, certo?
-Guento sim. – Respondeu Pedro Henrique, tentando não chorar novamente.
-Sabe, eu posso mudar essa história. Não direi o que aconteceu ao pai de vocês o que aconteceu... Mas terão de prometer que nunca mais vão fazer isso.
-Prometemos sim, seu guarda.
-Então, temos um acordo.


Sangue fresco, alma morta – Samuel III
(“Mas, vovó, por que essa boca tão grande?”)

Abri meus olhos. Estava deitado no banco do hospital.
Levantei-me e comecei a andar pelos corredores vazios e silenciosos. Não havia sinal de vida, alias não deveria ter passado ninguém ali por alguns anos.
Direita, esquerda, direita, direita e esquerda. Estava perdido no meio daqueles corredores.
Antes que eu pudesse começar a chorar, enxergo no chão o punhal que Pedro carregava. Pego o punhal com certo nojo, devido ao sangue que ainda escorria de sua lâmina.
Da porta ao lado provem um grito, o grito de Pedro. Fiquei paralisado, não podia ser.
Após segundos que pareciam horas, andei com passos incertos até o vidro da porta, onde pude ver a sombra de um ser com orelhas grandes comendo algo que parecia ser um pedaço de carne. Então a lembrança da historia da vovó me veio à cabeça, era o papa figo, ele existia de verdade.
Meu estomago “embrulhou”, poucos segundos depois vomitei caindo no chão, desmaiado.

Sangue fresco, alma morta – Sandro
(“E só me resta um segundo, pra viver”)
-Sim, e o senhor espera que eu, um homem de 27 anos, acredite que você matou um homem porque ele era o Papa-Figo? E alem disso que esse “papa-figo” matou seu irmão?

Samuel fez do silencio suas palavras, com as mãos na cabeça como se quisesse voltar ao tempo, e não ter pedido ajuda para aquele policial.

Sandro estava furioso, era véspera de feriado, iria ao estádio prestigiar seu time com seu filho, mas agora tinha serias chances de perder sua noite com um maluco que acredita em lendas infantis.

-Fala alguma coisa!- Gritou o policial
-Eu já falei!Era ele... Ele matou meu irmão e a amiga dele... Procure lá. P-E-D-R-O Henrique e Ana Clara Vargas.

Sandro saia da sala frustrado. Já eram 20h30, e ainda ficaria por ali por mais duas horas, no mínimo. Seus pensamentos foram interrompidos por outro policial, que trazia umas fichas.

-Achou alguma coisa? –Questionava Sandro
-Mais ou menos...
-Como assim?
-Samuel... Ele casou-se a 3 meses, tem um trabalhos estável e nenhum problema com drogas.
-Ótimo... Agora você quer que eu acredite que ele não é louco?
- Só acho que tem algum outro motivo para ele ter feito o assassinato.
-Duvido muito... Ele aprecia ter certeza no que dizia... Ninguém que fosse certo da cabeça inventaria tal coisa... E o pior é que ele fala como se estivesse falando a verdade...
-Eu sei... Mas também tem outra coisa...
-O que?
-Ele realmente sumiu quando era pequeno... Sua mãe deu queixa na policia. Só que...
-Diga logo.
-Seus pais não tiveram irmãos.

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